Uma carta uma brasa através - Resenha

Uma Carta Uma Brasa Através - Paulo Leminski

cartas a Régis Bonvicino (1976-1981)

Editora: Iluminuras
Número de páginas: 186



''Uma carta uma brasa através'' é uma coletânea de cartas do renomado poeta brasileiro Paulo Leminski ao seu amigo de longa data Régis Bonvicino. As cartas reunidas neste livro são de um brilhantismo e sensibilidade únicos. Leminski descreve todas as suas preocupações, dissabores e o inconformismo relacionado à política da época. Afinal, a correspondência aqui publicada é marcada - em sua maioria - pela ditadura militar. Percebe-se que o clima político da época atormentava o poeta, em muitas cartas Leminski demonstra sua aflição no que diz respeito a sociedade de seu tempo. Outra aflição que permeava a vida do autor estava relacionado à ''inutilidade'' da literatura, que, segundo ele, não refletia os problemas que o país estava enfrentando. ''a antropofagia foi/ a tropicália foi/ agora é tudo assim/ ninguém sabe/ as certezas evaporaram. (...)''
Só para reiterar, muitas obras de Leminski foram censuradas nesse período, o autor elucida a repressão de sua composição Verdura (música essa que é cantada pelo Caetano Veloso, amigo íntimo do poeta).
Ademais, nos deparamos com o cotidiano (tanto de sua composição poética quanto de sua vida familiar) e acabamos por esbarrar em toda a intensidade e criatividade que contornam o perfil - tresloucado - do poeta. As cartas, antes de tudo, mostram como um poeta representativo pensava sua poesia. O material exposto nesta obra epistolar certamente auxilia-nos a compreender a atividade intelectual de Leminski. No final da obra, Régis Bonvicino escreve sobre a amizade - e morte - de seu grande amigo. Narra de modo singelo e tocante a representação que tinha de Leminski. 
Após ter lido essas cartas e conhecido um pouco mais sobre a vida deste grande poeta, só há uma palavra que seria capaz de representar Lemisnki e sua poesia: inefável.

À esquerda está Régis Bonvicino, importante teórico e poeta brasileiro e, ao seu lado, Paulo Leminski.



















Afinal, quem foi Paulo Leminski?

Fonte: Uma carta uma brasa através, p.98.

 Vou explanar aqui rapidamente a vida e obra de Paulo Leminski: Além de ter sido um passional da poesia, Leminski chamava atenção de todos a sua volta devido sua genialidade. Outra característica primordial nas obras de Leminski era a música, que lhe proporcionou uma discografia rica e variada. Era poliglota e estudioso fervoroso da cultura japonesa. Sua obra literária tem exercido marcante influência em todos os movimentos poéticos dos últimos 20 anos.
Faleceu aos 44 anos em 7 de junho de 1989;
Suas principais obras são: Catatau (1975); Não fosse isso e era menos/ não fosse tanto e era quase (1980); Vida (1990); Agora é que são elas (1999).
  • Algumas músicas de sua autoria que eu acho INCRÍVEIS: 
Verdura (1981) - Cantada por Caetano Veloso
Desejos Manifestos (1986) - Cantada por Moraes Moreira
Luzes (1994) - Cantada por Susana Sales.


 Logo abaixo expus alguns recortes das cartas que mais gostei:






Espero que tenham gostado. E corram para conhecer mais sobre a poesia do Leminski. Beijos!

O último dia de um condenado - Resenha

Le dernier jour d'un condamné - Victor Hugo

Editora: Estação Liberdade
Número de páginas: 156
ISBN: 9 788574 480664


Para entender o contexto histórico desse livro é preciso que retornemos à França do século XVIII. Nesse período, o meio de disciplina utilizado era o suplício. Este, por sua vez, caracteriza-se pela violência física incessante como meio de reconstruir a ordem violada. Logo, fura-se a língua dos blasfemadores, queimam-se os impuros, corta-se o punho daquele que matou - estes são apenas alguns dos exemplos de suplício que eram comuns naquela época. Outro atributo fundamental do suplício era a sua ostentação. Ora, se são necessárias penas severas é porque o exemplo deve ficar profundamente inscrito no coração dos homens. Ou seja, na cerimônia do suplício o personagem principal era o povo (cuja presença real e imediata é requerida para sua realização). 
Em suma, a exposição do condenado - que às vezes era submetido aos insultos e ataques do povo que estava ali como espectador - legitimava o poder do rei. Isto é, além de o suplício fazer parte de um ritual, nele estava embutido toda a economia do poder.
Mas, afinal, o que isso tem a ver com O último dia de um condenado? Ora, o livro nada mais é do que uma crítica feroz a esse meio de punição que perpetuou a vida do autor.  Victor Hugo, descreve a barbárie, a injustiça e a ineficácia dessa pena no decorrer do livro. Sendo assim, o autor torna-se um porta-voz da condição humana e de seus direitos.
O livro começa com um grupo de pessoas discutindo o abominável tema que o autor propôs a escrever. Naquela época, só se escrevia sobre histórias de cavalarias e os sucessos de seus personagens. Contudo, a partir do momento em que Victor Hugo passa a criticar e expor os sofrimentos físicos (e morais) de um condenado, era de esperar que obra causasse polêmica.

Mais adiante, o autor descreve as seis últimas semanas de um condenado à morte - desde o tribunal onde sua sentença foi declarada até a hora em que ele está diante da guilhotina. Nesse ínterim, observa-se todo o sofrimento moral que o condenado passa. A dor física torna-se quase inexistente, o que o angustia é a dor moral - e é nela que consistia a sua tortura maior. Sozinho, tortura-se com seus pensamentos, mas um em especial o destrói por dentro: a inescapável morte ao qual todos estamos condenados.
Victor Hugo afirma que este livro é dirigido a qualquer um que julgue. E ai está o brilhantismo de sua escrita: a obra nos torna mais humanos. Aquele ditado infeliz ''bandido bom é bandido morto'' não se aplica aqui. Apesar de ter sido escrito há muitos anos atrás, alude críticas atuais. Defensor da abolição da pena de morte, Victor Hugo engaja toda sua eloquência a serviço dessa causa. Livro impecável, que nos transforma moral e fisicamente.


Recomendações: Para entender melhor as críticas sociais do livro, sugiro que vocês leiam:
1. Vigiar e Punir - Michel Foucault
2. Da Divisão do Trabalho Social - Émile Durkheim
3. A república dos meninos: Juventude, Tráfico e Virtude. - Diogo Lyra.

Selfie com livro pode sim.


The Metallica Book TAG

ARE YOU ALIVE? HOW DOES IT FEEL TO BE ALIVE?


Resolvi criar essa TAG porque eu sou fã de Metallica e nada melhor do que juntar boa música com livros. Então, a Tag consiste em relacionar as músicas citadas abaixo com um livro que você acha apropriado. Espero que gostem! 


1. Nothing Else Matters: Um livro muito criticado mas que você ama.
 Eu escolhi The Catcher in the rye, do J.D Salinger porque apesar de ser um livro incrível é duramente criticado por aqueles que não compreendem o Holden Caulfield.





2. The Unforgiven: Um livro cuja temática é polêmica. 
 Acho que a música poderia ter sido inspirada nesse livro: Eu, Christiane F., 13 anos, drogada e prostituída. Isto porque acredito que como a maioria dos jovens que entram no mundo das drogas são vistos pela sociedade como vagabundos, e tornam-se imperdoáveis por estarem nessa situação. Logo, por não serem compreendidos e por carregarem esse estereótipo, acredito que o livro tem tudo a ver com a música. Especialmente nessa parte:
''They dedicate their lives
To running all of his
He tries to please them all
This bitter man he is
Throughout his life the same
He's battled constantly
This fight he cannot win
A tired man they see no longer cares
The old man then prepares
To die regretfully
That old man here is me''







3. Broken, Beat & Scared: Um livro de altos e baixos.
   Escolhi Assim Falou Zaratustra do Nietzsche porque apesar de ser um livro absolutamente incrível e imprescindível na vida de qualquer leitor, eu arrastei um pouco a leitura em alguns momentos. Às vezes eu demorava horas pra sair de uma página, e logo depois a história fluía e eu conseguia ler 30 páginas numa tacada só. Mas não deixem de lê-lo, por favor!










4. One: Um livro que te causou angústia.
                                                                                                                                                                                 Resistência, da Agnès Humbert, certamente foi o livro que mais me deixou apreensiva. Isto porque o leitor sente tudo aquilo que Agnès sofreu na época da ocupação nazista na França. Escrito de forma espetacular, o leitor se comove e sofre junto com ela. Corram para ler este livro!




5. Fade to Black: Um livro que mudou sua perspectiva de vida.
  É óbvio que o lindo do Dostoiévski não poderia ficar de fora. Apesar de já ter lido muitos livros desse russo, nenhum mexeu tanto comigo quanto Memórias do subsolo. Esse livro releva a nossa essência, expõe cruamente aquilo que de fato pensamos no nosso mais íntimo ser. É o tipo de leitura que eu recomendo a qualquer um.

Fiquem com a foto do lindo do James. Até a próxima! Beijo



Raízes do Brasil - Resenha

Raízes do Brasil - Sérgio Buarque de Holanda

Editora: Companhia das Letras
Número de páginas:193
ISBN: 9 788571 644489



"A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana e vinha;
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro
(...)
Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos sob os pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia,
Estupendas usuras nos mercados. (...)”
Descreve o que era naquele tempo – Gregório de Matos


Sérgio Buarque de Holanda, em seu livro intitulado Raízes do Brasil, se propôs a explicar como a cultura brasileira está intrinsecamente ligada às nações ibéricas que aqui chegaram e esforçaram-se para impor seus ideais. Por conseguinte, ao mostrar o legado que os países colonizadores – Portugal e Espanha – deixaram no Brasil, observa-se que muitos dos hábitos e costumes da época do Brasil Colônia são perpassados até hoje, dentre eles a ociosidade, mérito pessoal e a mentalidade patriarcal. Outros pontos relevantes no livro consistem na narrativa do escritor sobre o ápice e o declínio da sociedade senhorial, bem como as mudanças políticas oriundas do processo de urbanização do Brasil do século XIX.
Sérgio Buarque, no decorrer do livro, averigua até que ponto a tentativa de implantação da cultura européia no Brasil obteve êxito. Dessa forma, o autor define como características principais das nações ibéricas a sua individualidade e plasticidade. Ora, sem tais particularidades o português e o espanhol não alcançariam sucesso por essas terras.

Sendo assim, o autor também reconhece o mérito de Portugal na colonização do Brasil. Plasticidade, carência da moral do trabalho, adaptabilidade e espírito aventureiro são atributos que compõem o perfil de nossos colonizadores. E, tendo em vista que o português não detinha orgulho de sua raça – pois ele era próprio um mestiço – fora mais fácil a relação de proximidade com os povos de outras nações.
Posto isso, há de ressaltar que a ocupação do território brasileiro – por parte dos portugueses – se deu de modo desleixado e com certo abandono. Isto porque, a priori, os colonizadores ibéricos não vieram com intuito de povoar a terra, mas sim, buscavam ouro e outros meios de riqueza rápida.
À medida que os povos ibéricos foram de fixando no território brasileiro, era evidenciada a estrutura que impunham: base patriarcal, fortemente marcada pelo personalismo. A influência familiar no convívio social interferiu no Estado – onde este, por sua vez, só operava com os ditames do interesse senhorial. Logo, quem monopolizava a política da época eram os fazendeiros escravocratas e seus filhos. Observa-se que o Estado era, nesse contexto, apenas uma ampliação da comunidade doméstica. 

 
Todavia, uma série de fatores contribuiu para a ruptura da sociedade patriarcal. O primeiro deles foi a lei Eusébio de Queirós (1850) que proibia o tráfico negreiro. O cerne de toda a riqueza senhorial fundamentava-se no comércio e no uso da mão-de-obra escrava.
Outro ponto relevante no declínio da sociedade patriarcal constituiu-se na forte resistência à mudança que os senhores obtinham. Isto porque a tradição rural estava impregnada na mentalidade dessa sociedade.
Ademais, a intensificação do crédito bancário e a construção de meios de transportes modernos (como as estradas de ferro) também ajudaram a sucumbir a sociedade patriarcal. Sendo assim, a sociedade senhorial foi substituída e agora possui ocupações nitidamente citadinas – como atividades políticas, a burocracia e as profissões liberais. Contudo, toda essa gente que se deslocou para a cidade carrega consigo a mentalidade e os preconceitos típicos de uma sociedade cujas raízes estão no meio rural.
Essa transição de vida rural para vida urbana trouxe novos ideais: deixa-se de lado o valor atribuído a terra e preocupa-se mais com questões relacionadas ao intelecto, como a busca por um diploma de bacharel em Direito. Assim que o indivíduo adquirisse o diploma, teria cargos honoríficos e de prestígio a sua disposição.
Desse modo, não havia uma preocupação real com o saber, mas sim, um grande desejo por riqueza e reconhecimento. Trazendo ideais de uma realidade totalmente diferente da que se encontrava o Brasil àquela época, o positivismo e o liberalismo se firmaram aqui.
Sendo assim, Sérgio Buarque de Holanda afirma que a democracia sempre fora um mal entendido na sociedade brasileira. Isto por que o conhecimento importado da Europa favorecia apenas os interesses da elite local.
Em virtude disso, o autor apela para importância de se fazer uma revolução, exterminando, então, as raízes ibéricas ainda tão vivas no pensamento político-social da população brasileira. A Nossa Revolução adotaria o urbanismo e priorizaria as camadas menos favorecidas. Estas, por sua vez, teriam a capacidade de instaurar um novo sentido a vida política, dando lugar a tão almejada democracia efetiva.